Em 2004, Christopher Booker escreveu um livro com sete enredos básicos mostrando como é possível encaixá-los numa variedade de histórias. O livro dele, The Seven Basic Plots: Why We Tell Stories, só está disponível em inglês mas é essencial para quem quer aprender um pouco mais de storytelling e o uso de arquétipos em histórias.
Qual a idéia central dos sete enredos básicos?
A tese de Booker é que todas as histórias do mundo podem ser resumidas em pelo menos um dos sete enredos básicos e, embora algumas histórias possam se utilizar de mais de um dos enredos, sempre existirá um predominante em cada história.
Como dá pra perceber, Booker tenta fazer algo parecido com que o Joseph Campbell e Christopher Vogler fizeram com a Jornada do Herói, criando assim mais uma teoria na área da storytelling.
Quais são os sete enredos básicos?
Pretendo escrever um artigo para cada um dos enredos, esmiuçando características e especificidades de cada um deles, além de estudar exemplos, analisando características das obras. Por enquanto, segue um resumo de cada um dos enredos. São eles:
1) Overcoming the monster (Vencendo o monstro)
Talvez o arquétipo de história mais “clássico”, no enredo de Vencer o Monstro o herói nada mais vai fazer do que eliminar um mal idealizado (que, convenhamos, geralmente é um monstro) que atormenta e é uma ameaça a sua vida ou do mundo onde ele vive. Alguns exemplos famosos são: Guerra dos Mundos e Star Wars.
2) Rags to Riches (Dos trapos as riquezas)
Nesse enredo o nosso herói começará a vida pobre e fodido, as vezes passando necessidades agressivas mas no final tudo dará certo e ele conseguirá muitas riquezas. Entretanto, antes dele ficar rico (ou bem de vida) definitivamente, ele deve perder a bolada que ganhou da primeira vez. Exemplos: Cinderella e Alladin.
3) The Quest (A jornada)
A jornada clássica onde o herói e sua trupe devem conseguir algum objeto (geralmente mágico) ou achar algum lugar (geralmente com alguma propriedade mágica) e no caminho vão enfrentas altas confusões e aventuras. Exemplos: Senhor dos Anéis e A Incrível Jornada
4) Voyage and return (Viagem e retorno)
O nosso herói acaba indo parar em uma terra muito louca e estranha a sua realidade, onde ele irá passar por vários obstáculos e provações, até que volta ao seu mundo sem nada além da experiência de vida. Exemplos: Alice no País das Maravilhas e A Viagem de Chihiro
5) Comedy (Comédia)
Confusão e surpresas são as palavras chave pra entender o conceito de comédia que o Booker traz aos enredos básicos. Comédia deve ter um final feliz, mas toda a história deve se basear em confusões e surpresas que vão acontecendo sucessivamente mas que, embora possam causar eventuais problemas, tudo será resolvido de maneira simples no final. Exemplos: Sonho de uma Noite de Verão e 10 Coisas que eu odeio em você
6) Tragedy (Tragédia)
Na tragédia, o herói tem uma falha gigante em seu caráter e essa falha vai acabar fazendo com que ele tenha um final nada feliz, geralmente envolvendo a sua morte ou um evento tão trágico quanto. Exemplos: Hamlet e Édipo Rei
7) Rebirth (Renascimento)
Em um enredo de renascimento, a personagem principal passa por algum problema ou provação que acaba por mudar totalmente sua concepção de mundo. Geralmente esse tipo de enredo transforma uma personagem egoísta e ruim para os outros em uma personagem mais bondosa ou, no mínimo, numa pessoa melhor. Exemplos: Grinch e Meu Malvado Favorito
Meus comentários sobre os sete enredos básicos
Pra começar já posso destacar que o que o Booker faz em seu livro (por sinal, que belo nome para alguém que vai fazer um livro sobre histórias) não é necessariamente novo, embora seja um trabalho relevante.
Quem estuda storytelling sabe que a criação dessas estruturas e frameworks é essencial, esse tipo de coisa ajuda bastante e existem vários.
O resumo dos sete enredos básicos funciona muito bem, mesmo requentando conceitos antigos, como por exemplo o de Aristóteles que já considerava Édipo Rei a tragédia perfeita na época que escreveu o seu Arte Poética.
Booker também tem uma estrutura bem fechada sobre os enredos e se algo sai do planejado ele parece desconsiderar um pouco as coisas. Isso me incomoda e muito até porque não vi no trabalho dele uma atenção especial dada a parte estética do trabalho narrativo (contar histórias não é só seguir arquétipos, uma estética bem feita também pode significar muita coisa).
Como com todos os livros de storytelling, o meu conselho é usar mais o trabalho do autor como um guia e não como uma verdade absoluta. Mesmo conselho que dou, inclusive, para o trabalho do Campbell e seu Monomito. Inspire-se e use-os caso esteja empacado mas não deixe os conceitos nortearem o trabalho em si.
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